Crítica - After e a Romantização do Relacionamento Abusivo

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Anna Todd é uma autora Best-seller norte-americana conhecida por ter escrito a série de livros After.
Não acompanhei o hype de After no Wattpad. Para ser sincera, me interessei pelo primeiro livro quando assisti ao trailer em uma sala de cinema. Quando comecei a ler o livro, percebi logo de cara que se tratava de um relacionamento abusivo, sim, a personagem principal Theresa Young sofre com o relacionamento da mãe que é super protetora, paranoica e decide que sua filha não terá a mesma vida que ela teve.
“Tessa” como é chamada nos livros, entra para a universidade de Washington nos EUA. O primeiro capítulo do primeiro livro é sobre a mudança de Tess para a Universidade, seu namorado Noah e sua mãe ajudam com a mudança para o dormitório, quando eles chegam lá, eles encontram sua nova colega de quarto, Steph, com um rapaz deitado na cama chamado Hardin. Esse é um momento bem constrangedor, Hardin fica impressionado com as roupas de Tessa, a garota usa saia longa e, ele acha aquilo brega, horrível. Hardin também fica incomodado com o namorado de Tess, Noah, um cara engomadinho e com cara de nerd.
Carol Young, mãe de Tessa, fica impressionada com a garota de cabelos vermelhos e com o garoto bad boy cheio de tatuagens e piercings. Quando eles saem do quarto, Carol diz que irá fazer de tudo para que Tessa mude de quarto, Tessa quer evitar a todo custo que a mãe faça um barraco no primeiro dia de faculdade, a garota diz que vai ficar bem e Carol acaba cedendo e vai embora a contragosto.
Tess é uma garota que sempre teve sua vida planejada, desde sempre ela soube que queria fazer faculdade de letras, entraria na Universidade de Washington, e depois se mudaria para Seattle para trabalhar em uma editora. Tessa sempre foi apaixonada por romances clássicos, um de seus favoritos e citado com freqüência no livro O Morro dos Ventos Uivantes de E. Brontë.
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         A vida de Tessa passa a girar entorno de Hardin, e ele passa a controla-la. Ela vive cada situação absurda e muita gente tem romantizado isso. 
         Eu vivi um relacionamento abusivo, e essa série me fez lembrar porque eu não quero um relacionamento desse tipo. Não preciso estar com alguém pelo simples fato de não ficar solteira. Eu sei exatamente o tipo de relacionamento que eu mereço. 
      Pela primeira vez na vida eu estou tranquila, não estou neurótica, com medo de fracassar ou de não ser aceita. Pela primeira vez, eu sei o que fazer, e sei das minhas possibilidades. Não tenho mais medo de correr atrás dos meus sonhos. Não tenho medo de ser professora de idiomas, nem medo de tentar um emprego novo caso precise. Decidi que escreverei minha tese de mestrado e estou animada com isso, diria feliz, nunca na vida almejei um mestrado porque eu não fazia ideia do que escrever. Decidi que independente de um relacionamento ou não, eu estudarei fora do país por um ou dois meses... Descobri que não preciso de um relacionamento pra ser feliz, agora que eu estou me encontrando como pessoa, as coisas irão acontecer de forma natural. Não tenho mais pressa de ser mãe ou casar, eu tenho pressa de viver, eu quero viver. 
        Eu preciso viver, deixar a inércia de lado, de viver no automático. Quero viajar, encontrar com os amigos, trabalhar, tomar um sorvete e ir ao cinema. Quero ler livros clássicos, quero ler Young Adult, quero ter a experiência de ler qualquer coisa pelo simples fato de ter entretenimento da melhor e da pior qualidade. Quero me emocionar com romances, mas ao mesmo tempo com o pé no chão, sabendo que a vida e dura, mas que depende de nós saber como vivê-la. Depende de nós o fato de como iremos lidar com as circunstâncias. Eu não quero uma vida fácil, eu não quero sobreviver, eu quero lidar com os meus problemas da melhor forma possível. Eu quero estudar na área da literatura cada vez mais. Eu quero um mundo de possibilidades, quero ser reconhecida pelo meu trabalho e quero influenciar pessoas de forma positiva. Chega de viver com medo, chega de viver sobre pressão para agradar aos outros e esquecer de mim mesma. Chega de viver a vida dos outros. Chega de não ver a pessoa extraordinária que eu sou. Não quero um mundo utópico, quero um mundo de oportunidades. Quero ler livros como o After e ser capaz de ler com olhos críticos e não achar que é simplesmente mais um romance. Porque na realidade não é. Depois de ler os 5 livros percebi que não é esse tipo de relacionamento que eu quero para mim. O relacionamento tóxico que arrasta família e amigos para o buraco. Mesmo com um final feliz, não quero pra mim. Até porque sabemos que a realidade é completamente diferente. 
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         Os casos de relacionamento abusivo te puxam para baixo, chegando a quebrar você por dentro e por fora. Você não precisa apanhar para sofrer um relacionamento abusivo, a partir do momento que te faz mais mal do que bem, seu relacionamento é abusivo sim. Infelizmente a maioria das pessoas não sabem disso ou fingem que não sabem. Meu relacionamento durou de 2013 a 2017, vivi um relacionamento abusivo e não sabia. Achei que esse tipo de coisa só acontecia nas novelas e nos telejornais. Demorei para entender que o relacionamento estava me levando para o buraco. Nem sempre meu relacionamento foi dessa forma. No começo era literalmente flores, achei que tivesse encontrado meu príncipe encantado. Ele fazia tudo por mim, me ajudava da melhor forma possível, achei de fato que fosse casar. Eu disse a ele no começo que não ia namorar por namorar, ele me disse que estava cansado da vida de balada e que desejava a mesma coisa. Em 2015 as coisas começaram a ficar complicadas. Ele mudou e eu também. Ele mudou para pior, parou de se importar comigo e se tornou extremamente egoísta. Ele visava sua própria vida, seus amigos e seus bens materiais. Eu era um anexo vivendo a vida dele, cuidando dos amigos dele, da família dele e das coisas dele. Quando eu comecei a acordar, eu preferia morrer do que continuar a viver daquela forma. Eu tinha medo, medo de ficar sozinha, medo do desconhecido. Aos 31 anos eu tinha medo que ninguém ia me querer, de não engravidar mais. Eu me achava feia, ele me levou a acreditar que eu estava gorda, eu não estava gorda, estava com uns quilos a mais, era fácil de resolver, o problema é que ele se importava demais com a opinião dos outros. Os outros influenciaram demais no nosso relacionamento. Ele queria me forçar a ir para a academia, mas nunca perguntou o tipo de atividade física que eu gostava. Ele reclamava para os amigos do meu corpo e da maldita academia, quando terminamos, os amigos vinham jogar isso na minha cara e eu me senti a pior das criaturas, talvez seja por isso que eu mantive contato com um ou outro... sim, eu gosto de atividade física, eu odeio academia, hoje, me descobri no Pilates, ganhei flexibilidade, aprendi a trabalhar a respiração e a mente, odeio faltar às aulas, quem diria que eu seria esse tipo de pessoa. Vejo resultado e quero mais. Aprendi que preciso trabalhar a mente e o corpo, e tem dado certo. 
            Eu não tive coragem de voltar para o meu Hardin, mas a Tessa teve e eles tiveram um final feliz. A gente sabe que não é bem assim que funciona. A minha mensagem é: "Parem de romantizar relacionamento abusivo." Essa série só vale a pena para entretenimento, e só!
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*Romantizaram o filme, eu não gostei. A experiência é válida para quem for ler os livros. Espero que tenham gostado e até a próxima!

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